Há mais de 800 anos, a Inglaterra foi abalada por um dos mais notórios assassinatos da história do país. Em 1170, o Arcebispo de Canterbury, Thomas Becket, foi brutalmente assassinado na catedral, em meio a uma conturbada relação de poder com o rei Henrique II. Esta é a história de Becket, o favorito do rei.

Becket era um homem pobre de nascimento, mas estudioso e ambicioso. Ele se destacou como um dos mais talentosos advogados de Londres, tornando-se um amigo próximo do jovem e vigoroso rei Henrique II. Logo, Henrique o nomeou seu chanceler, um dos mais altos cargos do Estado. Becket se tornou o braço direito do rei, auxiliando-o em questões políticas e administrativas.

Contudo, a relação de poder entre eles começou a se tornar tensa quando Henrique II passou a exigir uma maior subordinação da igreja e dos bispos aos poderes reais. Becket, que havia sido indicado para se tornar arcebispo de Canterbury, teve que escolher entre a lealdade ao rei e a Igreja. Ele escolheu a segunda opção e, em 1162, foi consagrado como o mais alto dignitário eclesiástico da Inglaterra.

Becket se tornou uma figura cada vez mais independente e poderosa. Ele lutou incansavelmente pelo direito da igreja de governar a si mesma, sem interferência do Estado. Foi nesse contexto que o conflito entre Henrique e Becket atingiu seu ponto mais alto. O rei queria forçar uma reforma na igreja e ampliar seu controle sobre ela. Ele exigiu que os eclesiásticos fossem submetidos à lei do reino. Para Becket, isso seria uma submissão à autoridade régia e um ataque ao poder da igreja.

As tensões chegaram ao ápice quando os seguidores de Henrique II acusaram Becket de traição. Eles o acusaram de conspirar com os rebeldes, planejar um ataque ao rei e tentar estabelecer a independência da igreja. Becket teve que sair do país, buscando refúgio na França. Enquanto isso, Henrique II continuou a ampliar seu poder, tornando-se cada vez mais arrogante e desafiando abertamente o papado.

A situação atingiu um ponto de ruptura quando Becket voltou à Inglaterra, mesmo sabendo dos riscos que corria. Ele se recusou a renunciar ao seu cargo como arcebispo e a obedecer às ordens de Henrique. O rei, então, teria dito a famosa frase: Quem me livrará desse padre turbulento?.

Quatro dos seus cavaleiros, ouvindo a ordem do rei, foram até a catedral e mataram Becket a golpes de espada. O assassinato teve grande repercussão e ampliou ainda mais a controvérsia em torno da relação de poder entre o rei e a igreja. O papado excomungou Henrique II e a catedral de Canterbury se tornou um local de peregrinação.

Conclusão:

A história de Becket e seu assassinato brutal é um exemplo de como as relações de poder entre líderes políticos e religiosos podem ser extremamente conturbadas e perigosas. O conflito entre Henrique II e Becket levou a um dos maiores escândalos da história inglesa, abalando a relação entre o Estado e a igreja. A figura de Becket continua a ser lembrada pelo seu exemplo de coragem e fidelidade, tornando-se um símbolo dos ideais da independência da igreja.